terça-feira, junho 11, 2013

Como todos os Dias

Estava sentada numa mesa com apenas duas cadeiras, sozinha. Gostava do tempo quente, mas o sol atrapalhava sua vista e sua concentração, e por isso a jovem mulher estava do lado de dentro do pequeno café de sempre, na mesma mesa de sempre.

As pessoas conversavam ao seu redor, mas ela não entendia o que falavam; sequer as ouvia. Sua atenção estava voltada para o notebook na sua frente, com o mesmo arquivo, nunca terminado. Ao lado do notebook, uma xícara de capuccino, esquecida e com o conteúdo frio, com açúcar em excesso. Nunca o bebia, embora o pedisse todos os dias. Sabia que se não pedisse nada, não poderia ficar ali. A mesma garçonete que a atendia todos os dias também sabia disso, mas nunca fez qualquer tipo de reclamação. Ambas sabiam que aquele lugar era uma espécie de santuário para a jovem escritora.

Era acostumada à rotina. Usava sempre os mesmos tipos de roupa, os cabelos acaju soltos, e nunca havia trocado a armação dos óculos, quadrada e azul. Também estava acostumada a não saber de nada. Quem sabe isso fizesse parte de sua tão conhecida e adorada rotina. Repetia as mesmas perguntas durante todo o tempo, em sua própria mente. E nunca, durante todas as tardes que passara naquele café, conseguia respondê-las. Os pensamentos se misturavam, perguntas complexas com as observações mais simples, pedaços de conversa da qual se lembrava, ou que sua mente captava, como uma estação de rádio. No fim, sempre apagava tudo o que havia escrito no seu inseparável notebook.

Detestava isso. Toda sua vida dependia do que escrevia, ou assim gostava de pensar. Mas não tinha vida, como também não tinha nada escrito. Era sempre assim, mas dessa rotina ela não gostava. A repetia todos os dias haviam quase dois meses, mas era como se sempre fosse a primeira vez, pois nunca saia do lugar. Sempre ia embora com as mesma dúvidas e pagava pela mesma xícara de capuccino, da qual não bebia uma gota sequer.

Esperava o dia em que tudo mudaria, mas também tinha medo. Não sabia o que esperar dele. O desconhecido não faz sentido. Ajeitou os óculos de armação quadrada sobre o nariz, e voltou a digitar compulsivamente, embora não entendesse nem mesmo o que escrevia. Não entendia nada, embora visse e passasse por tudo de novo a cada dia. Colocou o ponto final de mais um parágrafo - que em breve seria apagado, de novo -, e sorriu. Havia entendido, enfim. Nada iria mudar, pois ela nunca achava a resposta! Ou talvez essa fosse a resposta.

Talvez tivesse achado a resposta, mas qual era a questão? Não, a resposta não era essa. O sorriso se alargou quando percebeu que seu medo era infundado. Pelo menos por enquanto. Não sabia o que deveria fazer. Talvez devesse ter medo da mudança antes dela ocorrer. Gostava da sua vida assim, no fundo. Talvez devesse ter medo depois das mudanças terminarem, porque só depois disso poderia dizer com certeza o que havia mudado para melhor. Riu de si mesma quando percebeu que pensava exatamente isso todos os dias, mas nunca nada mudava. E então, sem nem mesmo perceber, bebeu um gole do capuccino excessivamente doce. O mesmo de todos os dias.

Um comentário:

  1. Posso dizer que esse acaba de se tornar o meu favorito? Não sei se é porque eu me identifiquei um bocadinho, mas amei <3

    ResponderExcluir