segunda-feira, junho 17, 2013

Luzes de Natal


(para o Luke)


Desceu as escadas de madeira, ignorando seus rangidos, e atravessou a sala de estar. Nada em sua decoração indicava ser véspera de Natal. Era um homem. Jovem, certo, mas um homem. E, segundo suas crenças, não deveriam comemorar o Natal. Não que ele não gostasse da data, oh, é certo que ele gosta! Mas ele apenas desistiu. De tudo. Costumava comemorar com a família, quando pequeno. Mas ele estava sozinho agora, e não via motivos para comemorar. Ele havia escolhido isso, e sempre fora um hábito seu escolher apenas uma entre duas opções opostas.

Acendeu um cigarro, e ficou ali, apenas observando a rua. Perdeu a noção do tempo e de quantos cigarros fumou. Não queria entrar e ter de lidar com a casa cheia de garrafas vazias de bebidas; não gostava daquele vício. Mas não fazia muita diferença, no fundo, pois sem as bebidas e o cigarro, não seria ele. Viu uma família passar, em direção à praça, provavelmente para ver o coro de crianças. Elas sempre se apresentavam nessa época do ano, mas ele nunca havia assistido. Poderia muito bem ouvir de casa, em seu mundo em ruínas particular.

Ele nunca iria admitir para ninguém, talvez nem mesmo para ele mesmo, mas sentia falta de como tudo era antes. Não era um pensamento frequente, porém. Quem sabe ele só sinta falta da comemoração natalina. Ele sempre gostou de ver a casa cheia e decorada, o conforto proporcionado. E das luzes. Ah, como ele sentia falta disso! As luzes sempre foram sua parte preferida em toda a festa. Mas não valia a pena pensar nisso.

Levantou-se quando o coral estava começando a terceira música. Caminhou com passos lentos de volta para a casa fria e cinzenta, assim como sua alma. Ignorou todas as garrafas vazias sobre a mesa, ligou a televisão velha, e sentou-se no sofá velho. Levantou-se pouco depois, e voltou a subir as escadas, em direção ao quarto. Equilibrou-se em cima de um banco qualquer, e tirou de cima do armário uma caixa de papelão, empoeirada e esquecida há muito tempo. Tirou dela um longo fio com minúsculas lâmpadas, que enrolou em torno da cabeceira da cama, e ligou na tomada. O quarto foi preenchido por luzes coloridas, exatamente como quando era criança.

Deitou na cama, e fitou o teto por alguns minutos. Pode ouvir fogos de artifício vindos da praça. Meia-noite. Fechou os olhos e adormeceu quase imediatamente, sem nem mesmo olhar de novo para suas tão adoradas luzes de Natal.

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