quinta-feira, fevereiro 06, 2014

Aprendiz da solidão


Os primeiros raios de sol passavam pela janela do quarto, e iluminavam de forma suave o rosto do jovem adormecido. Nora mantinha-se afastada da luz, sentada numa poltrona no canto do quarto, com os pés sobre o assento e abraçada aos próprios joelhos. Victor acordaria logo.

Ela suspirou de cansaço, embora não tivesse sono. Passara a noite toda acordada, mas ainda assim não sentia um pingo de sono que fosse. Tudo bem, era certo que nenhum dos dois tinha ido dormir cedo, mas do mesmo jeito, as horas de sono perdidas não foram suficientes para fazê-la chegar a alguma conclusão.

Aquilo estava acabando com ela. Estava acostumada a contar com a ajuda de Victor para resolver qualquer problema que fosse, mas o que deveria fazer uma vez que o problema era o próprio Victor? Ela nem mesmo havia percebido quando as coisas começaram a mudar e se complicar tanto, mas aqui estava ela.

A verdade era que, enquanto muitos diziam estar entre a cruz e a espada quando numa situação difícil, Nora sabia que estava entre duas espadas com lâminas afiadas; não importa o movimento que fizesse, sairia machucada.

Na primeira das opções, machucaria Victor depois de tantas juras de que ficariam juntos, e magoá-lo doía tanto nela quanto nele, apesar de tudo. Na segunda opção, ele estaria feliz, mas ela não sabia se poderia viver ignorando seus próprios sentimentos. Mas, de qualquer forma, já estava detestando a si mesma naquele momento.

Nunca se sentira tão sozinha na presença de outra pessoa, ainda mais de alguém que outrora a conhecia tão bem quanto ela mesma. Nora não sabia quando as coisas tinham mudado, mas ela simplesmente não podia mais suportar aquilo. Não podia passar o resto de seus dias fingindo que tudo estava bem, mas como poderia criar coragem para falar tudo o que pensava?

Enquanto não chegava a uma conclusão, empurrava os problemas para algum canto escuro da mente, onde talvez pudesse esquecê-los. Um pouco como o que fazia agora, encolhida no canto mais escuro do quarto, com esperanças de ser esquecida também.

Ela suspirou baixo, com cuidado para não acordá-lo. Se odiava por deixá-lo de lado desse jeito, como um problema qualquer, e nem mesmo deixá-lo perceber isso. Com cuidado e silêncio redobrados, levantou-se da poltrona. O sol estava mais alto agora.

Sentindo pela primeira vez que estar sozinha a machucaria menos do que estar com Victor, Nora saiu. Sem saber quando voltaria, ou mesmo se voltaria. Só sabia que se sentia menos sufocada nesse momento do que no último mês. A solidão a dois estava matando-a, pouco a pouco.

Nenhum comentário:

Postar um comentário