quarta-feira, maio 14, 2014

Sobre a morte que nos separa


— É engraçado como as coisas mudam em tão pouco tempo, né, irmão? — O garoto comentou, sozinho, e em voz baixa. — Há alguns meses, tudo era tão diferente. Uma pena que as coisas não deram certo.

Ele parou, esperando uma resposta que não veio. Tudo estava no mais perfeito silêncio, e se não fosse por ele e pelo ritmo constante de sua respiração, tudo estaria como se congelado no tempo. Nem mesmo o vento – no momento inexistente – movia as folhas das várias árvores ali.

O jovem não devia ter mais de 17 anos, mas algo em sua expressão indicava que ele entendesse da vida como um adulto. Talvez ele só tivesse a sorte de parecer mais maduro do que era, ou talvez a vida tivesse o obrigado a ver as coisas de forma mais realista. Uma pena que nem sempre aprendemos a viver no tempo certo. Às vezes, aprendemos mais rápido do que deveríamos.

— Sinto sua falta. — Ele confessou, em voz baixa.
— Eu sinto, também. — A voz feminina ecoou ali perto, tão baixa quanto um sussurro, mas, mesmo assim, ele se sobressaltou.

A menina estava encostada numa das árvores mais altas por ali, perto de onde ele próprio estava. Ele não a viu chegar, e logo entendeu porquê. Ela se moveu em silêncio, provavelmente da mesma forma que havia chegado ali, e se aproximou.

Nenhum dos dois disse mais nada. Ele, num silêncio constrangedor. Ela, num silêncio calmo. Ambos, porém, doloridos. A menina sentou-se ao lado do jovem, abraçando as próprias pernas, e com a cabeça apoiada nos joelhos.

— Era amiga dele, também? — O garoto perguntou, timidamente. Ele a olhou pelo canto dos olhos, mas ela nem mesmo se moveu.
— Prima.
— Sinto muito. — Ele voltou a falar, e permaneceram um momento em silêncio. — Quer que eu a deixe sozinha?

Ela o olhou. Seu rosto não tinha emoção alguma, com exceção de um traço de curiosidade no olhar. Por algum motivo, ele se sentiu incomodado com a avaliação rápida que ela fazia.

— Não é como se ele pudesse responder alguma tentativa de conversa.

Ela não falou mais nada, mas manteve o contato visual. O jovem a olhou ainda mais sem graça do que já estava, e não sustentou o olhar da moça muito tempo. Ele voltou a olhar o túmulo de mármore na frente da qual estavam sentados, e em breve a menina fez o mesmo.

— Foi você quem as trouxe? — Ela perguntou, indicando com a cabeça o buquê de flores do campo pousado ali em cima.
— Sim. Um bocado afeminado, não é? — Ele respondeu, com uma risada anasalada e voz um tanto quanto amarga.
— Não. São bonitas, mas inúteis. — A menina opinou, antes de completar com a voz mais baixa: — Ele não pode mais sentir o perfume que elas exalam.

O jovem considerou por um momento, e o silêncio entre eles voltou a reinar. Reparando bem, ele podia ver a tristeza escondida nos olhos dela, mesmo com a atitude serena. Não a forçaria a falar, apesar de tudo. Sabia como ela estava se sentindo, apesar do fato de que essa era a única coisa que sabia a seu respeito.


— Preciso ir. — Ele comentou ao olhar o relógio de pulso, no fim de longos minutos em que não falaram mais nada. — Se demorar mais um pouco, vou me atrasar para buscar minha irmã mais nova.

A menina não o olhou enquanto o garoto se levantava, apenas acenou positivamente com a cabeça, e ele se sentiu um tanto quanto idiota por dar explicações a uma desconhecida.

— Fique bem. Ou ao menos tente. — Ele se arriscou a dizer. — Não acho que Logan gostaria de ver qualquer um que o conhecesse triste.

A jovem acenou minimamente com a cabeça, e ele deu as costas, em direção aos portões de ferro do cemitério. Achou ter visto os olhos dela ligeiramente úmidos, mas se ela precisasse desabafar de algum modo, o melhor seria que fosse sozinha, e não na presença de um estranho.

— Obrigada.

Ele a ouviu sussurrar enquanto se afastava, mas não voltou. De qualquer forma, não saberia dizer se ela agradecia a ele, ou se estava se dirigindo ao túmulo do primo, jovem demais, e que nem mesmo teve a chance de aprender a viver.

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